domingo, 17 de junho de 2012

As rachaduras.

Salve, meu povo.

Acho que vocês devem ter acompanhado, nos últimos dias, a turbulência esquisita e vergonhosa dentro do Partido dos Trabalhadores durante o processo de eleição interna dos pré-candidatos a Prefeito do Recife. Duelaram sem elegância João da Costa, atual prefeito do Recife, e o Maurício Rands, que atualmente é Secretário de Governo em Pernambuco,ao lado de Eduardo Campos, e também cumpre mandato de Deputado Federal. O processo eleitoral do partido foi sustado pela própria direção nacional diante das incontroláveis acusações de ambas as partes de que a metodologia tinha sido alterada e impuseram, dispensando a consulta aos membros do Partido, o atual Senador Humberto Costa. Durante todo o domingo da eleição ouvia-se nos rádios, lia-se na internet  a troca de farpas entre os candidatos. Um duelo que desejava apenas uma coisa: o poder.

O PT sempre esbanjou uma opinião de que era o único partido orgânico no Brasil. O que isso quer dizer? Bom, na visão deles do Partido, significa uma instituição política com regimento interno, ideologias, burocracia bem estabelecida e, sobretudo, uma peculiar adesão à democracia na escolha de seus postulantes, administradores internos e na decisão de temas espinhosos como bandeira do Partido. Esse caráter orgânico do PT, desde sua fundação no início dos anos 1980,  estimulava um militância ardente, que gritava nas ruas aos plenos pulmões: '"Partido, partido, é dos trabalhadores"., assumindo uma diferença clara dos outros partidos que, a princípio, não tinham ideologias e respondiam imediatamente apenas aos interesses de um grande líder.

Como bem notou o jornalista Alberto Lima, em seu texto no Blog do Jamildo, nada mais irônico com a própria desenvoltura do Partido em sua História e no presente. A organicidade do PT o levou a grandes embates, interessantes até, com líderes inflamados - como o Lula, por exemplo - defendendo suas visões. Mas também o colocou em maus lençóis.

Acontece que a chegada ao poder, em todos os setores, desgastou o PT. Afinal de contas, chegar ao poder no Brasil, principalmente propondo o que, na essência, os trabalhadores apostavam, sempre foi um tabu Virou clichê a velha frase de que o PT eleito em 2002 não era o mesmo PT de 1989. Sim, a política também é feita de mudanças, adaptações, as realidades se alteram. Mas, ironicamente, no Brasil as mudanças são frutos do pragmatismo. A velha máxima também do Peter Eisenberg: modernização sem mudança é a cara e careta do Brasil. É a  cansada proposta dos "Déspotas esclarecidos"  do século XVIII, que ainda financiavam a manutenção do Antigo Regime diante da força revolucionária que nascia na França e nos EUA, de  que era preciso mudar para não mudar. Muitos acreditam que assim foi possível o PT conquistar presidência da república. Foi preciso cautelar as palavras, amansar a revolução, segurar o trem da transformação. Preserva-se o carisma do Lula, mas deixa aguado o PT de sempre.

Rapidamente essa lógica contaminou o Partido e, na sequência, contagiou o sistema eleitoral. Prefere-se lucrar com as eleições do que consolidar o embate das ideias. Esse evento que se repete em dois e dois anos, transformou-se na maior fonte de renda de alguns empresários no Brasil. A gente não sente isso, mas a nossa democracia é negociada. Hoje, no Brasil, elege-se quem tem dinheiro. Lançar-se a um posto na administração pública exige uma boa nota preta para acompanhar as demandas das eleições: material de campanha, viagens pelo Estado, comícios e a famosa COMPRA DE VOTO, que vai desde a cesta básica até negociação de cargos no espaço público e a preferência para as empresas privadas nos processos de licitações públicas.

Onde está a rachadura do PT, que separou João Paulo de João da Costa? Por que, de repente, um silencioso e tímido membro do Partido, tornou-se a solução perfeita? E outra: será que o povo foi consultado por isso? Por que os jornais escrevem como se merecesse condecoração o governador do Estado por sus táticas para manter sob seus braços todo o poder administrativo de Pernambuco?

Onde está a melhor parte da inteligência que é o caráter?

Onde estão a organicidade dos partidos e da Democracia?

Onde está a Utopia e a realidade?

Quando nos falta resposta, nasce um problema.

terça-feira, 13 de março de 2012

Perdão.

Desculpem pelo ocorrido com o texto abaixo. Falha técnica que não se repetirá.
Afonso.

Historiador-cronista, cronista-historiador.

Texto adaptado para a abertura do blog e relacionado à aula de Introdução à História, ministrada na segunda-feira(05/03).  
Afonso Bezerra
Estudante  de História na UFPE
Observar o passado sempre é uma experiência fascinante e, ao mesmo tempo, muito complexa. Há muita polêmica envolvida nessa atividade de discutir, contrariar e, sobretudo, divulgar uma expressão sobre, muitas vezes, como se deu esse passado.

Foi no século XIX, quando houve a famosa transformação da História em um conhecimento científico, que nasceu essa preocupação com a forma da narrativa histórica, ou seja, aquela que se dispõe a reconstruir o passado. Os cientificistas de uma Europa positivista, envoltos pela explosão de progresso oriunda da Revolução Industrial, tentaram formular uma estratégia que organizasse esse discurso do passado de acordo com as ambições que tinha para o presente.

Repare que a Revolução Industrial deixou um herança que persiste até hoje na sociedade ocidental e que, depois do processo de globalização e da massificação dos dispositivos do Steve Jobs, o mundo inteiro continua respirando, que é essa atmosfera fanática por certezas absolutasverdades imbatíveis conhecimento verdadeiro. Vale lembrar que a Revolução Industrial é filha ideológica do Iluminismo, aquele movimento intelectual que defendia a idéia de que a razão é o único instrumento que esclarece o homem para o mundo e o encaminha para o progresso.

Observem, mais uma vez, que avançar é um termo que preenche a existência da sociedade moderna e,  curiosamente, ela ainda é uma expressão muito presente na sociedade atual. Essa permanência linguística é bem interessante. Sociedades, por mais que reneguem as anteriores, não conseguem esconder essa inconsciente influência. A linguagem é uma das responsáveis por essa contrariedade. A sociedade medieval, por exemplo, herdou um vocabulário do latim romano, mas aplicou os significados de maneiras completamente diferentes.

Todo esse arrodeio para falar que, por mais cuidado que se tenha com a narrativa, a História não é o passado. Marc Bloch já tinha atentado para isso no trabalho sobre o Ofício do Historiador, dizendo que a História não é uma Ciência do passado, mas uma ciência do Presente que estuda o passado. A História, sem pretensões deterministas, é um mundo aberto e cheio de possibilidades.

Todo Historiador, por mais neutralidade que defenda possuir, não nega as condições éticas que o presente lhe oferece. Isso não significa aptidões ao anacronismo – transferir conceitos e ideias de um tempo para outro -  muito menos a postura infeliz do historiador que faz de seu trabalho um trampolim político, por exemplo, enfestado de pragmatismo.

O profissional que escreve a história é um grande cronista. É aquele que entende o cotidiano, que sente o cheiro, a dor, o brilho do presente e os reconhece pelo retrovisor da vida. São esses elementos que se transformam em fundamentais na hora que o historiador escolhe sua época, como se costuma comentar na academia, para trabalhar e se dedicar a leituras e pesquisas eternas. O historiador é o cronista daquilo que demora a passar, mas também daquilo que passou ligeiro em sua particular velocidade e ninguém deu conta.

Um historiador da escola marxista britânica, chamado Eric Hobsbawm,  costuma comparar a nossa vida com uma viagem num trem bala. Todos olham a janela, mas somente o historiador compreende o que está lá fora. O resto, ironicamente, se contenta com o palpitar do trajeto. O historiador questiona, discorda, percebe, fuça e escreve. Assim, ele tece suas verdades, suas formas, sua identidade e seu passado.

Isso tudo para dizer que o Blog, a partir de agora, está de volta, e com a proposta de simplesmente comentar e conversar sobre a relação do nosso cotidiano e a História. Contamos com as contribuições dos leitores, que são os responsáveis por sempre apontar a inevitável incompletude de quem se dispõe a escrever, seja lá o que for.

Sejam bem-vindos e escrevam suas histórias.

HATCHEPSUT: UMA MULHER FARAÓ

Texto referente às aulas de História Antiga Oriental. 


Por Geison Lopes
Graduando em Direito e professor de História
Hatchepsut, faraó que sozinha constituía um casal régio, tendo a responsabilidade de ser – ao mesmo tempo – “homem e mulher” (23). Uma mulher muito bonita, o cargo que esta exerceu não ocultava toda sua beleza (24). Esta mulher faraó foi uma das principais faraós do antigo Egito. Era muito temida, governava com toda força e poder, Inini dizia:
“Hatchepsut ocupou-se dos assuntos do Egito segundo seus próprios planos. O país curvou a cabeça diante dela, a perfeita expressão divina de Deus. Era o cabo que serve para inçar o norte, o poder onde amarra o sul, era o cabo perfeito do leme, a soberana que da as ordens, aquela cujos planos excelentes pacificam as duas terras quando fala”.(jacq, Christian. As egípcias: retratos de mulher no Egito faraônico.Rio de janeiro. Bertand.Brasil 200.p.75).
Reconhecemos um faraó através de suas construções, seus palácios, seus túmulos e templos. Com Hatchepsut, não seria diferente. Essa mulher foi responsável por varias obras no Egito antigo, sendo conhecida até como “mestre de obras” por Christian jacq.
Reconstruiu o templo de uma deusa-leoa, no médio Egito, e construiu o glorioso templo de Dier al-Bahari, famoso por sua grandiosidade (25) e lugar sagrado, onde pessoas de vários lugares – depois da morte de Hatchepsut - vinham em busca de cura, para os seus males.
O deus Amon-re (26), segundo crhistian jacq, é responsável pelo renascimento da rainha – faraó Hatchepsut. É ele quem vai gerar o novo faraó do Egito
Hatchepsut, mulher linda e poderosa, aparece no templo de Dier Al-Bahari, despida e dançando perante Amon-ré, com os órgãos sexuais à mostra (27). Para nossa sociedade parece algo imoral, mas não para os egípcios. O erotismo fazia parte do cotidiano do casal egípcio. Ainda em Dier al- Bahari, foram encontrados grafitos de uma mulher que aparece em pé,e um homem por detrás, cena que hoje seria muito criticada, para John Romer, trata-se de Hatchepsut e seu amante Senenmut (28).  Percebemos que tanto o homem como os deuses do antigo Egito, estava ligados ao prazer e ao erotismo como afirma, Luiz Manuel de Araujo.
 Hatchepsut não foi a primeira nem a única mulher faraó, outras mulheres conseguiram chegar ao topo da hierarquia do Egito, também como faraó.  Mas, a grandiosidade de Hatchepsut é incomparável.
A historia da mulher egípcia, é marcada de orgulho, de uma sociedade tão antiga, mas que ,que tinha um pensamento quase que livre do preconceito, uma sociedade livre, onde o direito da mulher iguala-se ao do homem, onde a mulher é respeitada e venerada.







(23) ver (jacq, Christian. As egípcias: retratos de mulher no Egito faraônico.Rio de janeiro. Bertand.Brasil 200.p84).
(24) ver (jacq, Christian. As egípcias: retratos de mulher no Egito faraônico.Rio de janeiro. Bertand.Brasil 200.p76).
(25) ver (jacq, Christian. As egípcias: retratos de mulher no Egito faraônico.Rio de janeiro. Bertand.Brasil 200.p89,90,91).
(26) sincretismo do deus Amon e do deus ré.(Manuel de Araujo, Luiz. Estudos sobre erotismo no antigo Egito.Lisboa. colibri 1995. p.20,34,35).